domingo, 5 de maio de 2013



Fiéis desceram o Calçadão no centro de Bauru (Foto: Alan Schneider / G1) 

Fiéis católicos fizeram uma manifestação no centro de Bauru (SP) na manhã deste sábado (4), a favor do Padre Beto, excomungado pela Diocese da cidade na última segunda-feira (29). O motivo da punição teria sido por causa de vídeos e comentários sobre temas polêmicos, como o homossexualismo, publicados por ele nas redes sociais em que, segundo a Diocese, o padre foi de encontro às doutrinas da Igreja Católica.

Cerca de 300 pessoas se reuniram com faixas e lenços brancos em frente à Catedral, na Praça Rui Barbosa. Em seguida, desceram em passeata pelo Calçadão da Batista de Carvalho. Para uma das organizadoras do movimento, Inês Faneco, o encontro serviu para mais uma reflexão. “O objetivo nosso é gritar para o mundo que nós não queremos brigar com ninguém. Queremos refletir em nome do amor. Padre Beto é amor. Isso não pode criar uma barreira tão grande como foi criada. A igreja não pode se posicionar tão contra a uma coisa que eles pregam também, que é o amor”. Entre os fiéis estava Maria Zita, de 86 anos.
   Frequentadora da igreja, ela participou da passeata do início ao fim. “Mais pessoas deveriam participar e apoiar o Padre Beto. Ele é uma pessoa excepcional. Nas missas ele nunca falou uma coisa que fosse contra a religião. Sempre nos ensinou tudo que está na Bíblia. 

Eu, com 86 anos, concordo que assuntos polêmicos devem ser debatidos”, disse.Inês Faneco afirmou ainda que a Diocese de Bauru exagerou com a medida da excomunhão. “Foi uma postura absurda e retrógrada.       Não dá para continuar com isso em pleno século 21. Alguma coisa tem que mudar nesse país. Só pedimos para que as pessoas enxerguem que o Padre Beto nada mais e nada menos é amor. Não é que queremos que ele volte. Porque se ele voltar e continuar com essa hipocrisia é melhor que ele não volte. Não adianta você entrar na igreja e pregar amor e ser hipócrita. A igreja católica precisa de uma renovação urgente”. 

Outra pessoa presente foi o vereador e representante do movimento da diversidade, Marcos Souza. Ele contou que ajudou a convocar os fiéis para a última missa do padre. “Ajudei desde a chamar as pessoas para lotar a igreja na última missa do Padre Beto. Após a missa começamos o movimento ‘eu apoio o padre Beto’. É importante deixar bem claro que não é uma manifestação contra ninguém, contra a igreja católica. Mas sim, uma manifestação para mostrar o carinho pelo padre Beto e a falta que ele vai fazer na igreja”.

‘Marquinhos da Diversidade’, como é conhecido na cidade, também expressou sua opinião sobre a punição aplicada pela Diocese de Bauru. “Excomungar um padre porque ele colocou em suas palavras que uma relação extraconjugal, desde que consentida pelo parceiro, não é traição e falar que é a favor da união do mesmo sexo, a gente acha um absurdo. A igreja católica só tem cada vez mais a perder os seus fiéis com posturas como essa, de excomungar um padre de Bauru. Perde a igreja, perde a cidade, perde o padre, perde o munícipe”.

Entenda o caso

Após declarações polêmicas sobre temas como a homossexualidade, fidelidade e a necessidade de mudanças na estrutura da Igreja Católica, todas publicadas nas redes sociais, causaram um pedido de retratação por parte da Diocese de Bauru (SP). Roberto Francisco Daniel, conhecido como padre Beto, anunciou no dia 27 de abril que deixaria de exercer suas funções como pároco a partir da última segunda-feira (29).

Essa era a data limite para “confissão humilde de que errou quanto a sua intepretação e exposição da doutrina, da moral e dos bons costumes ensinados pela igreja", como exigia a nota assinada pelo Bispo Dom Caetano Ferrari no dia 23 de abril, na qual pedia a retratação e retirada do conteúdo, contrário aos dogmas da Igreja, publicados na internet.

Durante entrevista coletiva, o então sacerdote afirmou aos jornalistas que sua decisão foi tomada após várias reflexões, entre elas, a de não aceitar que seja possível seguir um modelo que não respeita a liberdade de reflexão e expressão por parte dos fiéis e membros do clero.
No entanto, na segunda-feira, antes de entregar sua carta de renúncia, padre Beto foi surpreendido pela cúpula da Diocese de Bauru ao excomungá-lo. De acordo com a nota publicada pela igreja, um padre perito em Direito Penal Canônico foi acionado para avaliar a situação e constatou, conforme esclarece a nota, que o “padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes delitos”.

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